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quinta-feira, março 08, 2007

Porque um dia a gente cresce

Um dia a gente cresce e descobre que ter um futuro certo é luxo. Descobre também que o mundo é muito maior do que a ilha. Muito maior que o pedágio também é o preço que pagamos por sair da ilha. Um dia a gente cresce e começa a sentir uma espécie de lembrança nostálgica. Lembrança carinhosa de um bem especial que está ausente acompanhado de um desejo de revê-lo ou possui-lo. Acho que o nome disso é saudade.

Um dia a gente cresce e começa a ter medo de usar meias brancas. Também começamos a sentir medo da distância. Medo de ser esquecido, de ter esquecido do que era, e sobretudo de como era. A verdade é que ficamos muito mais medrosos a medida que crescemos. Acho que o nome disso é instinto de conservação.

Um dia a gente cresce e descobre que os amigos são os membros da família escolhidos a dedo. Descobre também que eles sempre estarão por perto. Mesmo que, por alguma perturbação na percepção, percamos a distinção entre perto e longe, entre vizinho e estranho, entre imagem e coisa, entre signo, significado e significante.

Um dia a gente cresce e passa a contemplar pequenos momentos de felicidade. Alguns momentos de surpresa e alguns misterios. Momentos engraçados e até mesmo momentos de distração ligeiramente higiênicos. É quando então, meu caro, que a mais famosa das esculturas de bronze de Auguste Rodin começa a parecer óbvia.